História
“ A Capoeira não tem apenas uma verdade, ela tem várias verdades e várias outras verdades que se fazem a cada roda, a cada toque do berimbau...” (Mestre Toni Vargas ).
A Capoeira nasce de um misto de raças, nações, cores, crenças, rituais, tradições e culturas.
No começo da época da escravidão, os escravos deportados para o Brasil de várias tribos e povos, africanos e não só, pouco se comunicavam entre eles, pois não compreendiam a língua uns dos outros.
Mas com o passar do tempo estes povos escravos, encontrando uma linguagem em comum, começaram a unir-se e as suas tradições, religiões, danças e lutas a misturar-se.
Homens a quem tudo tinha sido tirado tentavam reapoderar-se da sua própria vida, era essencial manter viva a sua cultura, reconhecer as suas origens e sua história e sentir o ritmo dentro de si, deixá-lo sair.
Homens que deviam resistir a condições de vida desumanas, só com muita persistência e resistência conseguiam sobreviver. Esta resistência não era só física, ela era também ideológica, resistir à imposição de novos valores culturais, de uma nova religião e língua impostas pelos feitores aos negros.
Documentos que comprovem onde, como, quando e através de quem nasce a Capoeira não existem. As tradições africanas eram mantidas oralmente então, os primeiros documentos que nos falam desta arte são de alguns viajantes, de arquivos de polícia, a partir do inicio do séc. XIX, e dos primeiros investigadores e estudiosos do folclore brasileiro (início do séc. XX).
Algumas hipóteses quanto ao nascimento da Capoeira chegaram de viajantes que encontraram semelhanças com a dança do n’golo em Angola, bassula em Luanda, mani ou bombosa em Cuba e ainda a lagva em Martinica, mas não podemos esquecer que muitos escravos, após conquistarem a sua liberdade, voltavam para as suas terras de origem.
Os documentos que sobreviveram até aos dias de hoje, descrevem-nos uma Capoeira urbana, uma luta à procura da liberdade perdida, uma forma de resistência cultural e social.
Como todas as manifestações culturais africanas, e depois afro-brasileiras, a Capoeira era perseguida, marginalizada, praticada em grande parte por pessoas de baixas condições sociais, cada um com a sua forma de vadiar. Uma luta que devia ser escondida, uma luta feita de grupos rivais, de desafios pessoais, praticada até à primeira metade do séc. XIX maioritariamente por escravos negros africanos mas, a partir da segunda metade, também por brancos, estrangeiros, homens livres e pouquíssimas mulheres.
Em 1890, a Capoeira entra no codigo penal brasileiro, sendo perseguida legalmente até 1934 quando a repressão termina, com o decreto do presidente Getúlio Vargas.
Mas continuando sempre a ser uma Capoeira que devia sobreviver dentro de um contexto hostil, adaptando-se conforme o lugar, as condições e as diversas exigências.
Com o fim da repressão, a Capoeira veio a ser reconhecida como luta brasileira, usada por militares, levada até às escolas, tirada fora de um contexto marginal para ser divulgada e institucionalizada. Hoje esta arte é reconhecida como património cultural, está espalhada no mundo inteiro e é o mais forte meio de difusão da língua portuguesa no mundo.